Há coisas que aprendo das quais jamais me esqueço, são lições que levo por toda a vida, lições que tiro de simples experiências, de lugares que ninguém percebe. Elas estão em músicas, poemas, gestos, atitudes, livros, especialmente em livros. Ultimamente tem sido com surpreendente facilidade que me recordo de passagens de livros do quais me fizeram refletir por tempos, mas que nunca compartilhei tais pensamentos.
Sendo assim, aqui vai um pequeno trecho de “O VENDEDOR DE SONHOS – AUGUSTO CURY”. Mas antes me deixe contar como aprendi a vender sonhos : :
Estávamos ali a arrumar arquivos e notas fiscais, caixas e mais caixas em uma minúscula salinha. Conversávamos, eu e aqueles dois geniais rapazes que primeiro destruíram minha “Visão de mundo”, mas que depois transformaram todos aqueles pensamentos individualistas e egocêntricos. Debatíamos sobre tudo, sociedade, política, religião, filosofia, ciência. A cansativa jornada de trabalho se tornara pouca para nossas intermináveis conversas que nos faziam voltar atrasados do horário de almoço. Rsrs.
E depois de perceber que eu ali na minha pequenez, a garotinha de poucas palavras, era uma das poucas pessoas que realmente gostava de ouvir suas teorias e que sempre batia de frente quando discordava com qualquer um de seus pensamentos sobre a “sociedade”, era ela única que sempre tinha dúvidas e que sempre fazia cada vez mais e mais perguntas nas quais ele mesmo se deixava pensativo com as mesmas duvidas, como se...Não pensei nisso antes. Mas um dia a conversa foi diferente e durou por pelo menos um mês nos intervalos entre almoço e jornada de trabalho. Um diálogo simples em torno do mesmo assunto por horas. Uma única pergunta, ali integra, feita sem rodeios:
(J) - Posso te vender um sonho??
Os olhos da garotinha se iluminaram, mantinha a expressão séria, porém seu olhar jamais conseguiu enganar seus sentimentos. - Estava por vir mais um desafio, mais uma teoria inusitada onde as perguntas começariam a surgir sem parar até obter a ultima gota desse novo pensamento?? Não! Desta vez não! Desta vez foi diferente.Então, sempre ela respondia suas perguntas com outras perguntas, era a forma mais fácil de desviar daquilo que não queria falar, ou não sabia como responder.
(D) – E como é que se vende um sonho??
Um sorriso torto no cantinho da boca apareceu como se pensasse: “- Ela sempre faz a pergunta certa.” E assim começou a contar toda história daquele livro que lera semanas atrás mas que ainda não havia terminado.
(...)
“ - Os que de alguma forma vendem sonhos por meio de sua inteligência, crítica, sensibilidade, generosidade, amabilidade. Os vendedores de sonhos são frequentemente estranhos no ninho social. São anormais. Pois o normal é chafurdar na lama do individualismo, do egocentrismo, do personalismo. ‘O seu legado será inesquecível’.”
(...)
“ - Quando considero a brevidade da existência dentro do pequeno parêntese do tempo e reflito sobre tudo o que está além de mim e depois de mim, enxergo minha pequenez. Quando considera que um dia tombarei no silêncio de um túmulo, tragado pela vastidão de existência, compreendo minhas extensas limitações e ao deparar com elas, deixo de ser deus e liberto-me para ser apenas um ser humano. Saio da condição de centro do Universo para ser apenas um andante nas trajetórias que desconheço...”
(...)
“Todo pensador deve andar por ares nunca antes percorridos.”
“ Minhas armas são as idéis, mais poderosas, mais penetrantes, minha identidade é o que sou e quem não revela a identidade esconde sua fragilidade...”
(...)
(Algo que ele com frequência repetia: )
“ – Usamos teorias para decifrar a mente Humana.(...) – Deus, livrai-me dos “normais”! –
(...)
“- A dor nos cega e a frustração nos enburrece...”
“- Sem filosofar a vida, viverão na superfície. Não perceberão que a existência é como os raios solares que desapontam solenemente na mais bela aurora e se despedem fatalmente no acaso...”
(...)
“- É na insignificância que se conquistam os grandes significados, é na pequenez que se realizam os grandes atos.”
...E por semanas ouvira com atenção, foi então que depois de todas as provocações filosóficas surgiu a decepção. - Como assim ele não queria contar como terminava o livro?
Como sempre as perguntas e questionamentos vinham, mas foi a primeira vez que a garotinha não soube como expressar suas pequenas e insignificantes opiniões, não soube como buscar argumentos, não soube organizar suas idéias e expor-las. Ele a desconsertara deixara sem defesas. Então resolveu calar-se, o silêncio dizia por si só, ela havia entendido não como vender um sonho, mas havia encontrado um caminho para...
- Acabara de comprar um sonho...sem ao menos compreende-lo direito, e mesmo com todas as perguntas em sua cabeça sabia que seria um erro fazê-las, seria esmagada. Então descobriu que consentir também poderia ser uma maneira fácil de fugir do que não queria enfrentar. E ela apenas sorriu ao ouvir uma pergunta, agora diferente:
(J) – Vamos vender sonhos??
Ele mais um vez me ensinou algo valioso...
Ele sim dizia coisas, idéias, que trasformavam...
Me mostrou outros caminhos...