Volta.




A vida tem por vezes ficar complicada. Acho que tenho por tendência seguir para caminhos mais difíceis, pegar estradas irregulares, esburacadas e com curvas sinuosas. Sempre está a chover e a neblina dificulta ver a próxima entrada.
Passou-se um tempo e parece que cheguei ao fim da estrada, uma coisa nova aconteceu, tudo está tão claro a estrada acabou frente a uma linda vista, ali ao meio estão todos aqueles que uma vez encontrei no caminho e que de alguma forma fizeram mais feliz minha viagem. Algo me impulsiona a abraça-los, mas preciso apenas escolher qual abraçar primeiro, não há como abraçar o mundo de uma única vez, não o meu mundo! 
O problema está em quem escolher primeiro, e como todos os outros dias este tem sido de escolhas e medos que me invadem, só que agora todos eles estão se misturando, não tenho mais aquelas "caixinhas" que separam tudo, não tenho sido tão corajosa como Clarice, mas sim tão medrosa. O medo de tocar para pessoas que não sejam sua mãe e seu irmão, que tal nervosismo faz esquecer todas as letras e atrapalhar tudo, mas ainda bem que semana sim semana não ha um anjo mais velho ali para amparar. O medo de estar esquecendo a pessoa que mais senti afeto e confiei no último ano, o melhor é esquecer sei bem disso e estou esquecendo, aos poucos mas estou, porém ao mesmo tempo que o sentimento vai esfriando junto dele vão as lembranças, e pior que esquecer e arrancar a força toda paixão que ainda existe é esquecer toda lembrança boa que um dia existiu, e isso dá também medo, lembrar sem sentimento é o mesmo que não ter vivido tal momento. Mas se toda lembrança seja ela boa ou ruim traz junto uma lágrima então é melhor mesmo não tardar a arranca-las. Tem medo do futuro que está por vir, o receio de conviver com novas pessoas ou de continuar no mesmo lugar. 
A noite vem chegando e eu ainda não escolhi para qual correr, acho melhor voltar pelo caminho que vim, talvez nessa volta pegue algum desvio, passo por alguma trilha desconhecida para trazer um pouco de emoção. Isso, fiz minha decisão, essa é a melhor escolha, voltar, voltar para casa. Foi bom revê-los de novo. Quem sabe dou sorte e alguns de vocês não voltem comigo.

Aprendendo a viver

(Foto: Blog lucianapenidopsi)

Estou a Ler o Livro Aprendendo a viver de Clarice Lispector, e como boa leitora mergulho em cada cronica ali escrita, como se fosse eu a protagonista. Todos nós, ao ler um livro, sempre encontramos um trecho ou outro que condiz exatamente com aquele momento em nossa vida. Então essa e as próximas postagens, provavelmente irão encontrar trechos de Clarice e isso pelo fato de que estão a me ensinar algo ou que simplesmente se encaixam perfeitamente em tal momento de minha vida.

 Lhes conto aqui que nunca fui de sorrir por coisas engraçadas, e sim sorrir por simplesmente reparar em detalhes que transformam a viva. 
 Como as tardes no parque, sentada a grama observando a felicidade momentânea das crianças a brincar, a migração das formigas pela terra, o barulho da garoa batendo na janela, o ventilador ligado, o cheiro da grama recém cortada, aquela concentração imensa ao tocar uma música no violão e tentar não errar, o tic-tac do relógio que logo antes de dormir só nele se presta atenção tentando fazer a respiração entrar em ritmo com o tempo que ali está sendo contado, até que devagarzinho vai se pegando no sono. 
 São esses segundos de calma que fazem meu coração emanar um sentimento feliz. E como contou Clarice: "Sinto como ficarei de coração escuro ao constatar que, mesmo me agregando tão pouco à alegria, eu era de tal modo sedenta que um quase nada já me tornava uma menina feliz."
 Tal sede talvez não exista mais, porém um quase tudo me arranca um tímido sorriso.